quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A distância e o presencial cada vez mais próximos

Entrevista feita comigo pelo jornalista Paulo Chico e publicada na Folha Dirigida, 20 a 26/05/2010

Fascinado pela educação a distância e suas possibilidades, José Manuel Moran veio de longe. Nascido em Vigo, na Espanha, cruzou o Atlântico e tornou-se um dos mais respeitados especialistas no uso de tecnologias aplicadas aos processos de aprendizagem. É disso que trata esta entrevista, que tem como foco a instalação da internet banda larga na quase totalidade das escolas públicas do Brasil, meta anunciada pelo Governo federal.

Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e Diretor do Centro de EAD da Universidade Anhanguera-Uniderp, Moran é autor de diversos livros, como A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, pela Papirus Editora, e que acaba de chegar à 3ª edição. Qualificação dos professores, recursos de ambientes virtuais, redes de colaboração e riscos do mau uso da internet foram alguns dos temas abordados pelo educador que, defensor das interações humanas como combustível para a aprendizagem, vê fragilizada a fronteira entre o que é presencial e o que se acredita a distância.
“Uma boa escola precisa de professores mediadores, vivos, criativos, experimentadores, presenciais e virtuais. De mestres menos falantes, e mais orientadores. Precisamos de uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos. Onde todos possam aprender com os que estão perto e longe, conectados audiovisualmente. Aprender em qualquer tempo e qualquer lugar, de forma personalizada e, ao mesmo tempo, colaborativa”, afirma.

Meta do governo federal é de que, até o final deste ano, 92% da população escolar brasileira estejam atendidas por internet banda larga. O que essa medida representa?
Esse é um passo importante para que as escolas possam ter acesso à internet, às redes e à mobilidade. Inicialmente o plano governamental era que todas as escolas tivessem acesso a um laboratório conectado à internet. Mas, com a banda larga, será possível ampliar o acesso, transformando salas de aula, bibliotecas, pátios e outros espaços em lugares de aprendizagem flexível e compartilhada.

Isso de fato é prioridade no cenário da educação brasileira? Não há outras deficiências básicas mais urgentes?
Na educação há muitas frentes importantes. Posso destacar algumas, como as políticas de formação, para atrair os melhores professores, remunerá-los bem e qualificá-los melhor; as políticas inovadoras de gestão, que consistem em levar os modelos de sucesso de gestão da iniciativa privada para a educação básica; o forte apoio ao ensino técnico e tecnológico, integrando-os melhor, de forma que um aluno possa profissionalizar-se antes e ao mesmo tempo seguir um currículo superior mais próximo do que a sociedade necessita; e, por fim, o incentivo a parcerias público-privadas eficientes e constantes, com maior integração de programas e recursos econômicos e tecnológicos.

Como as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) entram nesse pacote?
A inserção no mundo das tecnologias conectadas é um caminho importante para preparar as pessoas para o mundo atual, para uma sociedade complexa, que exige domínio das linguagens e recursos digitais. Em educação não podemos esperar que todos os outros problemas sejam equacionados, para só depois ingressar nas redes. Escolas não conectadas são escolas incompletas, mesmo quando didaticamente avançadas. Alunos sem acesso contínuo às redes digitais estão excluídos de uma parte importante da aprendizagem atual: do acesso à informação variada e disponível de forma online, da pesquisa rápida em bases de dados, bibliotecas digitais, portais educacionais. Estão fora da participação em comunidades de interesse, de debates e publicações online. Enfim, da variada oferta de serviços digitais.

Quais ações correlatas devem ser tomadas para que a informatização das escolas surta o efeito desejado, com salto na qualidade do ensino?
Informatização é mais do que colocar computadores. É conectar todos os espaços e elaborar políticas de capacitação dos professores, gestores, funcionários e alunos para a inserção das tecnologias no ensino e aprendizagem de forma inovadora, coerente e enriquecedora. Os projetos pedagógicos precisam refletir essa integração horizontal e vertical com o currículo. As tecnologias digitais facilitam a pesquisa, a comunicação e a divulgação em rede. Temos as tecnologias mais organizadas, como os ambientes virtuais de aprendizagem – Moodle e semelhantes – que permitem que tenhamos um certo controle de quem acessa o ambiente e do que precisa ser feito nas etapas de cada curso. Além desses ambientes, há um conjunto de tecnologias, que denominamos popularmente de 2.0, que são mais abertas, fáceis e gratuitas, como blogs, podcasts, wikis… Nesses espaços, os alunos podem ser protagonistas dos seus processos de aprendizagem. E isso facilita a aprendizagem horizontal, isto é, dos alunos entre si, das pessoas em redes de interesse. A combinação dos ambientes mais formais com os informais, feita de forma integrada, nos permite a necessária organização dos processos com a flexibilidade da adaptação ao perfil de cada aluno.

De forma prática, como as tecnologias devem ser exploradas? Qual seu uso mais racional e eficaz nas escolas?
O ideal é que estas tecnologias Web 2.0 – gratuitas, colaborativas e fáceis – façam parte do projeto pedagógico da instituição para serem incorporadas como parte integrante da proposta de cada série, curso ou área de conhecimento. Quanto mais a instituição incentiva o trabalho com atividades colaborativas, pesquisas, projetos, mais elas se tornarão importantes. Podem ser utilizadas também para produzir conteúdos interessantes e deixar para o professor o papel de organização das atividades, de discussão, orientação, apresentação dos resultados e sua publicação pelos alunos. Com boas propostas no começo de cada semestre, as possibilidades de motivação dos alunos e professores aumentarão, sem dúvida.

Sem treinamento ou direcionamento pedagógico, o uso da internet pode trazer prejuízos?
A internet é uma projeção de tudo que o ser humano faz de bom e de ruim. Ela tem tudo de mais interessante, resolve um monte de problemas, como pagar contas sem filas. Tem mil vantagens de comodidade de acesso. Ao mesmo tempo, o ser humano coloca ali diversas aberrações, tanto do imaginário quanto das situações reais. Na internet há o acesso à informação para a qual o aluno pequeno não está preparado, na área da sexualidade, pornografia e violência. Isso sempre existiu, mas a internet escancarou a facilidade de acesso. A solução não está principalmente em bloquear ou em não falar disso. Temos que aprender a lidar com as tecnologias. Orientar, acompanhar, porque uma criança pode envolver-se em situações complicadas. A criança, quando percebe que os pais e professores confiam nela e se preocupam, mostra quais sites costuma visitar, ou logo aponta alguma situação anormal. A internet é um meio rico de possibilidades e de problemas. E a escola é um espaço privilegiado de aprendizagem a saber fazer essas escolhas.

Como qualificar os professores? Por que ações neste sentidos caminham em passos tão lentos no Brasil?
O professor demora em torno de dois anos – numa pesquisa feita na França – para dominar as tecnologias e poder utilizá-las no seu planejamento e avaliação. Há um longo caminho de aprendizagem como usuário e depois como educador. O importante é começar com recursos simples – um blog, por exemplo – e ir tornando mais complexas as atividades, aos poucos, para que se sinta seguro de que faz sentido o que está se propondo. Não basta só ser moderninho. O importante é que o aluno aprenda cada vez mais.

Onde o professor, por vezes abandonado pelas políticas públicas, pode buscar informações sobre inclusão digital?
O Portal do Professor do MEC e alguns portais educacionais, como o Diaadiaeducação, da Secretaria de Educação do Paraná, são excelentes para conhecer o que é feito, realizar cursos básicos e encontrar materiais e atividades importantes em diversas áreas de conhecimento.

O professor já percebeu que não é mais a única fonte do saber para os estudantes? Esse tem sido um processo traumático para os educadores?
Uma boa escola depende fundamentalmente de contar com gestores e educadores bem preparados, remunerados, motivados e que possuam comprovada competência intelectual, emocional, comunicacional e ética. Sem bons gestores e professores nenhum projeto pedagógico será interessante, inovador. Não há tecnologias avançadas que salvem maus profissionais. São poucos os educadores e gestores pró-ativos, que gostam de aprender e conseguem colocar em prática o que aprendem. Temos muitos profissionais que preferem repetir modelos, obedecer, seguir padrões. Sem pessoas autônomas é muito difícil ter uma escola diferente, mais próxima dos alunos que já nasceram com a internet e o celular. Uma boa escola precisa de professores mediadores, vivos, criativos, experimentadores, presenciais e virtuais. De mestres menos ‘falantes’, mais orientadores. De menos aulas informativas e mais atividades de pesquisa, e experimentação. Desafios e projetos. Uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos. Onde todos possam aprender com os que estão perto e também longe, conectados. Onde os mais experientes possam ajudar aqueles que têm mais dificuldades. O futuro será aprender em qualquer tempo e lugar, de forma personalizada e, ao mesmo tempo, colaborativa. Teremos flexibilidade curricular e facilidade de estarmos juntos, conectados audiovisualmente.


http://moran10.blogspot.com/2010/05/distancia-e-o-presencial-cada-vez-mais.html

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A importância da tecnologia na educação e ao seu profissional

A utilização dos recursos tecnológicos é um caminho sem volta as vezes se leva tempo para dominá-los contendo vários equívocos. As escolas têm equipamentos, mas não sabem como utilizá-los. Para a dominação dessa tecnologia é preciso dispormos de algum tempo, o problema é que nesse período de tempo, novas tecnologias serão desenvolvidas, embora a aceleração da produção em informática tenha diminuído bastante.
Fomos criados com medo da tecnologia, ouvindo de nossos pais coisa como “_ Não mexe no botão da TV ”, sem dúvida à próxima geração de educadores deverá ter mais facilidade com a informática e quem não conseguir, vai ficar à margem dos próprios alunos, uma vez que eles dominam a tecnologia. Com isso se exige do professor uma preparação e atualização com intuito de fornecer as ferramentas para motivar o aluno e ajudá-lo a produzir seu conhecimento. O contato com essas novidades amplia o horizonte dos educadores e acena com novas possibilidades pedagógicas.
A grande revolução que o computador promove é permitir uma educação massificada no sentido de que há muita informação disponível e ao mesmo tempo individualizada. Nessa perspectiva não vamos chegar às salas de aula virtuais. Elas já existem , são interessantes, mas não deverão torna-se o padrão. O que vai acontecer é que o ensino não vai mais se reduzir ao livro didático. Os livros deverão ser melhores e adequados à informática, até mesmo com sugestões de sites.
O papel é a forma mais fácil de acesso ao conhecimento, as aulas expositivas, os trabalhos de laboratórios, as pesquisas de campo, as consultas à Internet são recursos complementares, que devem ser utilizados de maneira integrada e inteligente. Exatamente o oposto do que faz a educação convencional, que desperdiça o mais precioso de todos os recursos, o professor fazendo dele mero fornecedor de informações, quando deveria ser um organizador de situações de aprendizagem.
O profissional em educação não deve pensar que irá perder seu emprego por conta da informática e sim utilizar com meio para melhorar a qualidade de ensino com essa ferramenta. O papel do profissional em educação é mostrar ao aluno para que serve o conhecimento. Ele precisa enxergar-se com apenas uma parte do processo de aprendizado.

Nirane de Jesus Santos.

http://www.faced.ufba.br/~edc287/edc2871999/nirane1.htm

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mídias e a escola

Mídias e a escola

Por: José Maurício Santos da Silva

Após terminar a leitura de um material sobre o uso de TV, computador e outros tipos de mídias na escola, cheguei a conclusão de que temos mais um desafio a enfrentar: O desafio de dominar as novas tecnologias a fim de que possamos facilitar o nosso trabalho e conseqüentemente tornar mais agradável e atraente a maneira de trabalhar nossas aulas perante os alunos. Contudo, creio que seja perigoso o endeusamento do formato de aulas em que os instrumentos utilizados para a concretização de atividades e melhor compreensão durante o trabalho, ocupe papel mais importante que aquele desempenhado pelo professor.
Sem dúvida alguma instrumentos como vídeo, TV, sistema de som, computador etc. são importante para o próprio professor e para um melhor visualização dos tópicos trabalhados pelo professor. Faço uso de materiais como vídeo, DVD, TV em sala de aula e posso dizer que o interesse dos alunos aumenta.
Vi acontecer isso no ano letivo de 2007 quando os alunos da 2ª série do ensino médio trabalharam a elaboração de vídeos com a tradução de músicas de seus interesses e que por suas vez estivessem relacionadas a fatos importantes da sua História e da História. Com esse trabalho foi possível explorar a pesquisa, leitura também em português a a leitura em inglês, o companheirismo no trabalho de montagem dos vídeos além de outros pontos importantes como a apresentação dos trabalhos em sala de aula usando as mídias da escola. Entretanto, fiz isso com a idéia de que precisamos ter em mente que não basta sabermos apenas apertar botões, teclas, manusear instrumentos de última geração etc. É necessário que saibamos o porquê fazemos uso de tais instrumentos, além de compreendermos que é importante saber como estes instrumentos foram criados, de que maneira foram pensados e como funcionam.
Como professor de língua estrangeira acredito, sim, que as mídias são uma ferramenta importante no desenvolvimento cognitivo e metacognitivo dos alunos e inclusive na sua sociointeração. A mídia, no caso da disciplina que leciono, pode produzir situações de funcionamento da língua em tempo real, em situações reais. Mesmo assim, vejo com bons olhos o comentário de Setzer a respeito de deixar as crianças serem infantis. Creio que deve haver tempo para tudo no que respeita a filosofia que busque o ensino-aprendizagem das crianças e dos adolescentes em relação o uso do computador e internet. Os alunos precisam descobrir e compreender o seu mundo de ser humano antes de qualquer outra coisa.
Infelizmente a escola brasileira hoje, notadamente instituições de ensino privado com algumas exceções, em nome da concorrência abandonam muitas vezes a função nobre que é educar e formar pessoas íntegras e capazes de abandonar o individualismo. E é claro junto a esse fato, em nome de tal seguimento e seus próprios lucros visto como o mais importante na concorrência entre escolas, expõe os alunos às máquinas vislumbrando-se a importância maior do mundo virtual. O resultado tem sido que as crianças, em sua maioria, busca a internet e os computadores apenas para jogos e em sua maioria jogos violentos.
Em termos de busca por assuntos relacionados à pesquisa e trabalhos escolares observo que os resultados são catastróficos em termos de leitura e escrita de seu procrio “punho”. O que tem saído são colagens em sua grande maioria. É o que vejo acontecer em qualquer Local Administration Net (L.A.N) que vou para pesquisar. Mesmo assim, por termos consciência da importância da TV, do seu formato, da internet, dos computadores, do rádio etc. acredito na possibilidade de melhores formas de alcançarmos nossos objetivos pedagógicos com o uso desses materiais como instrumentos facilitadores do ensino-aprendizagem.

Referência bibliográfica

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=23536

domingo, 29 de agosto de 2010

Pratica educativa na sociedade contemporânea

Pratica educativa na sociedade contemporânea
Por: Paulo César Brum Antunes
Resumo
O presente ensaio sobre a responsabilidade e a importância do educador na formação do cidadão como um todo, ressalta o ser e não o ter, evidenciando que a educação vai muito além do transmitir informações e que este possa diminuir a distancia entre a tecnologia, pedagogia e a pratica no seu dia a dia. Também que forme pessoas criticas capazes de sobressair-se sobre as novas tecnologias e ideologias que são impostas a cada período, tornando esta pessoa responsável pelos conhecimentos adquiridos

Palavras chaves: educador-tecnologia-ideologia

O conceito de educador engloba a todas as pessoas e instituições que realizam a função de educar com o objetivo de desenvolver o educando como ser. A função dos mestres é insubstituível, não existem materiais didáticos ou métodos capazes de educar sem o auxílio de professores. Com base nesta realidade é que buscamos uma educação que visa o desenvolvimento social, igualitário, justo, economicamente viável, ambientalmente sustentável e solidário em relação ao ambiente capaz de atingir o cidadão, a família e a natureza. E todas estas iniciativas vêm ao encontro das necessidades de investimentos na escola, visando à qualidade da educação.
Portanto, sonhamos e trabalhamos por uma escola aberta, melhor estruturada tecnologicamente, agradável, mais comprometida com o cidadão e sempre responsável pedagogicamente assumindo a sua função social e transformadora valorizando o ser, oportunizando momentos de aprendizagem para que as pessoas possam viver e tornarem-se mais críticas. Segundo Morin (2004), no século XXI, a educação, muito além de transmitir informações tem como desafio formar cidadãos que saibam transformar a informação em conhecimento, que saibam usar esses conhecimentos em benefício próprio e de sua comunidade.
A escola, que ao longo do tempo se distanciou da vida cotidiana, busca diminuir estas distâncias e é neste sentido que o uso da tecnologia na educação vem contribuir, ou seja, preencher a lacuna formada entre sociedade e escola, desenvolvendo competências e habilidades (capacidade de síntese, de raciocínio, de verbalização de idéias) que viabilizem as comunidades escolares, condições de realizar um projeto de vida e de sociedade melhor.
Se a pedagogia se propõe a capacitar os seres humanos para ir além de suas predisposições “inatas”, devem transmitir “a caixa de ferramentas” que a cultura tem desenvolvido para fazê-los (ARROYO, 2000, pg 181).
No processo que envolve a tecnologia, mais importante que a produção que se faz a partir do uso dos meios, são as relações que os sujeitos/atores sociais estabelecem nesse processo de construção. O diálogo, o comunicar, a expressão livre de idéias, as formas de participação, a inclusão dos elementos e a valorização das identidades culturais são elementos significativos e expressivos nesse processo.
Nos dias de hoje, o homem tem o privilegio de passar por uma profunda transformação no que se refere a seus valores. No momento em que o homem foca o ser e não o ter ele torna-se um cidadão consciente da importância da sua realização pessoal, sem precisar renunciar suas conquistas técnicas. Tem-se que perceber o educador como um homem que busca uma realidade mais humana, e que resolva seus problemas com originalidade e criatividade distanciando-se do comodismo e utilizando a tecnologia como ferramenta de suporte.
A cada nova ideologia, nova moda tecnológica, políticas ou econômicas, pedagógicas e acadêmicas, cada novo governante, gestor ou tecnocrata se julgam no direito de nos dizer o que não somos e o que devemos ser, de definir nosso perfil, de redefinir nosso papel social, nossos saberes e competências, redefinir o currículo e a instituição que nos formarão através de um simples decreto. Podemos denunciar tudo isso e cair num jogo de forcas para impor outro olhar, outra política, mas senão sairmos dessa lógica continuará no mesmo jogo e na mesma visão de que a categoria de professores não passa de transmissor de conhecimentos.
Problematizar-nos a nós mesmos, pode ser um bom começo, sobretudo se nos leva a desertar das imagens de professor que tanto amamos e odiamos. Tem-se em levar em conta as características essenciais das pessoas, suas individualidades, usando a liberdade com responsabilidade, desenvolvendo a capacidade de comunicação. Como nos diz Arroyo (2000), fazer o percurso à procura do ofício de mestre, artífice, artista que há em nós reaprender saberes e artes, recuperar a imagem bela que estamos construindo nas ultimas décadas.

Referências bibliográficas:

ARROYO, Miguel G.. Ofício de Mestre: imagens a auto-imagens Petrópolis:Vozes, 2000.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Vol. 08. Brasília, MEC/SEF, 1997.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 21ª ed., 1979.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo. Ed. Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2004.
WERNECK, Hamilton. Ensinamos demais, aprendemos de menos, Petrópolis, Vozes. 1995.


http://www.redeambiente.org.br/Opiniao.asp?artigo=47

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Revista Mundo Jovem

http://www.mundojovem.pucrs.br/entrevistas.php

Entrevistas
publicadas na edição nº 392, novembro de 2008.

Em que as tecnologias modificam as nossas vidas?
O impacto das novas tecnologias na sociedade é uma realidade da qual não podemos fugir. Entre luzes e sombras, caminhamos para o futuro com as tecnologias entrando cada vez mais nas diferentes tarefas do cotidiano. Embora o Brasil tenha ingressado mais tarde nestes avanços, segundo o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, o país pode ter um ponto de vista diferente.
Com uma população mais jovem e moderna do que os países do Primeiro Mundo, tem uma abertura para o novo, cujo potencial é muito grande. Para isso, é necessária a articulação da nossa cultura, muito rica e vital, com as novas tecnologias.

Laymert Garcia dos Santos,
sociólogo da tecnologia e professor da Unicamp-Campinas.

Mundo Jovem: Qual o contexto atual das mudanças tecnológicas?

Laymert Garcia dos Santos: Existem três tipos de tecnologias interligadas. São três grandes linhagens tecnológicas que começaram a modificar o mundo a partir da década de 1970: as chamadas tecnologias da informação, que lidam com a informação digital; a tecnologia genética, que lida com a informação genética; e uma terceira, que é a nanotecnologia, que lida com as transformações da matéria em escala nano.

De um lado, temos as modificações da tecnologia nas informações comunicacionais, incluindo aí o computador e tudo o que está relacionado à comunicação digital. De outro lado, estão as tecnologias da vida, e as da transformação da matéria em escala nano.

Uma questão importante é que há uma convergência dessas tecnologias. E ela é cada vez maior. Há um efeito de aceleração pelo fato de elas estarem confluindo e pelo fato de umas estarem influindo no desenvolvimento das outras. É claro que a informação genética não poderia existir sem a informação digital. Todas elas inserem-se dentro da revolução cibernética que veio com a Terceira Revolução Industrial. E a da escala nano também não poderia existir se não tivesse uma interlocução forte entre estas três linhagens.


Mundo Jovem: E isso atinge a vida das pessoas?

Laymert Garcia dos Santos: Isso modifica completamente a vida das pessoas, sobretudo a das novas gerações. As pessoas que têm atualmente 60 anos, eram jovens quando a revolução cibernética começou a acontecer, na década de 1970. Algumas dessas pessoas encontram dificuldade numa série de coisas. Do computador, por exemplo, assim como em relação ao celular, à máquina fotográfica, que também é digital, a secretária eletrônica, enfim, todos os aparelhos que antes não eram digitais e que hoje são. Por exemplo, mandar uma mensagem escrita através do celular qualquer jovem faz com a maior facilidade. Isto ocorre porque ele já nasceu nessa geração completamente cibernética.

Só que esse processo evolui numa rapidez espantosa: nós estamos vivendo uma aceleração da aceleração. Aquilo que os jovens conseguem fazer com muita velocidade e facilidade, pelo menos aqueles que estão inseridos neste mundo digital, eles também vão ter que saber lidar com a evolução crescente. Caso contrário, ficarão numa situação semelhante à da geração anterior.


Mundo Jovem: Num país tão diverso quanto o Brasil, de desigualdades sociais tão grandes, como é que as novas tecnologias entram?

Laymert Garcia dos Santos: É um problema seríssimo realmente, porque o upgrade tecnológico das novas gerações, além de ser um problema geracional, é também um problema social para aqueles que não estão dentro do trem-bala. Quem está dentro dele é quem está acompanhando ou está podendo acompanhar a evolução tecnológica. A nossa sociedade, como é muito desigual, tem muitas pessoas que não podem acompanhar. E como existe uma aceleração crescente, os que estão fora do trem ficarãocada vez mais fora mesmo. Um dos problemas da Terceira Revolução Industrial é que ela é, pela primeira vez, excludente, não inclusiva. E o capitalismo torna-se cada vez mais excludente: não tem lugar para todos.


Mundo Jovem: Então as tecnologias podem ter benefícios e riscos?

Laymert Garcia dos Santos: A questão principal com relação às tecnologias é que a gente não considera o que alguns autores chamam de efeitos colaterais ou o acidente. Todas as tecnologias, quando inventadas, inventam também o seu acidente específico. Nós sempre estamos focados na positividade da tecnologia, nunca na negatividade.

Dos anos de 1980 para cá, começou a surgir dentro da Sociologia um ramo chamado Sociologia do Risco, que começou a pensar justamente nos efeitos colaterais inerentes à tecnologia, os efeitos sociais. O risco começou a ser pensado e considerado, mas acho que ainda falta muito a ser pensado sobre todos os efeitos disso.


Mundo Jovem: Existe a possibilidade de um equilíbrio em relação a este ufanismo que há com as tecnologias?

Laymert Garcia dos Santos: Existe uma espécie de ufanismo em relação principalmente à tecnociência, e não só às tecnologias. Porque a gente ainda acredita muitas vezes numa idéia de progresso infinito, que vem do século 18, e numa idéia de progresso inquestionável. Penso que a sociedade tem que colocar sobre a mesa os riscos e os efeitos colaterais junto com a tecnologia e discutir isto tudo junto. Porém a tecnociência não pensa assim, porque cada vez que estas questões são colocadas na mesa, os cientistas acham que o questionamento é uma saudade do tempo pré-moderno, que é arcaico. A mídia, por exemplo, só é aberta a um único ponto de vista, que é do progresso da ciência. Não sou contra o progresso, mas isso tudo precisa ser discutido também do ponto de vista político e não apenas científico.


Mundo Jovem: Você acha que existem algumas ações políticas, governamentais ou não, de acesso às novas tecnologias?

Laymert Garcia dos Santos: Conheço uma experiência interessantíssima, que é do Ministério da Cultura, que tenta pensar as novas tecnologias junto com a questão da cultura brasileira, sobretudo voltada para o público jovem. Os pontos de cultura, por exemplo, são pensados nesta perspectiva, já integrando tecnologia e cultura, que quase nunca na nossa sociedade foram pensadas junto. O uso de softwares livres e a produção do conhecimento e da informação podem favorecer setores excluídos.


Mundo Jovem: Como a escola poderia usar melhor a tecnologia?

Laymert Garcia dos Santos: Acho que a escola ainda não entendeu completamente o sentido da Terceira Revolução Industrial. Ela acha que a tecnologia é só uma ferramenta. Mas não no sentido como a tecnociência usa, porém uma ferramenta como apenas um instrumento. A tecnologia é muito mais do que isto. A cibernética nos introduz numa outra dimensão, porque nossa vida passa a ter uma outra dimensão.

Além de massa e energia, a terceira dimensão da matéria é a informação. A revolução cibernética lida com o plano da informação e isto é muito mais do que uma questão só de aparelhos e de como aprender a lidar com eles. Existe uma lógica diferente, uma flexibilidade operatória diferente, uma maneira de viver e de pensar diferente e a escola ainda não entendeu este sentido amplo. Ela precisa avançar.


Tecnologias no cotidiano: desafios para a educação

Observando ao redor, no ambiente doméstico há o computador, a TV, o microondas, a antena parabólica, o telefone, o vídeo, o fogão... em tudo pode-se observar a presença da tecnologia e/ou o produto de um processo tecnológico: a caneta, o cafezinho, a água ozonizada, a tesoura, o tecido da toalha etc. Ocorre que esses objetos e alimentos são resultado de processos tecnológicos, da ciência, da invenção, da criatividade do ser humano para facilitar, aprimorar a vida, gerando mais qualidade da espécie.

O velejador Amyr Klink afirmou que a verdadeira tecnologia está em garantir a qualidade do que se faz aproveitando o máximo possível de tudo o que se dispõe, para se atingir uma meta ou objetivo. Por exemplo: ele calculou quantos dias velejaria até o Pólo Antártico e organizou porções diárias de ameixas devidamente embaladas, pesando as gramas da fruta para não exceder o limite estritamente necessário durante o período em que precisaria se alimentar. Fez isso também para facilitar seu uso e reduzir as possibilidades de sucumbir todo seu projeto. Ou seja, evitar qualquer obstáculo, de forma planejada. Ele sugere que a tecnologia está para atender à humanidade desde a sua forma mais simples até a mais sofisticada.

Criação e desenvolvimento

Desde que o ser humano passou a se sentir ameaçado na sua sobrevivência, iniciou-se um processo de conquista, de domínio sobre os recursos naturais através do seu alto grau de inteligência e criatividade para utilizar os recursos naturais existentes em seu próprio benefício. Criou diferenciadas ferramentas em cada época para dominar debilidades físicas em relação às demais espécies. Por conseguinte, através da invenção de inúmeros equipamentos, ampliaram-se suas competências associadas ao raciocínio e à habilidade manual própria do ser humano.

Outro fator que contribuiu para o aprimoramento, e ainda contribuiu para a tecnologia, é a capacidade natural de relacionamento dos humanos, da qual originou a cultura. Essa diversidade cultural resultou numa agregação de saberes, de formas e de técnicas de fazer coisas, costumes e hábitos sociais que foram propagados de geração em geração.

Estratégias para a educação

Mesmo com toda a tecnologia presente no mundo, é preciso aprimorar as estratégias mais eficazes para que nós, professores/educadores, e os alunos sejamos ou passemos a ser bons comunicadores. Esse domínio da comunicação requer prática, paciência, persistência e o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender, de adquirir o know-how a partir da leitura de bons livros, jornais, revistas, filmes, músicas, participando de cursos, estando atentos ao que acontece no mundo que nos cerca. É preciso dedicação também para aperfeiçoar a competência de aprender a fazer mais com menos, como evidenciou Amyr Klink ao planejar sua viagem.

Achei interessante a análise entre as linguagens exploradas num filme e as linguagens de um livro. Neste último a imaginação pode ser incitada a visualizar ambientes, experimentar, afetando o leitor, enredando-o e/ou cativando-o, fazendo com que instigue a imaginação, cabendo-lhe a tarefa de recriar a mensagem conforme sua cultura, suas vivências e o contexto criado pelo autor. Como o código é escrito, o ritmo pode ser mais lento, permitindo retrocessos.

Há autores que, por estilo, preocupam-se em sensibilizar o público através das linguagens visuais (descrição de luzes e cores de um cenário), auditivas (musicalidade e ritmo em rimas), olfativa (descrição de odores), gustativas (de sabores), além da sinestesia, que privilegia a narração de movimentos tais como coreografias. Assim, com inúmeras estratégias, pode-se munir de todas essas vantagens e junto com o estudante iniciar o exercício da leitura crítica do que vem explícito e do que é veiculado nas entrelinhas nos meios de comunicação.

Marinez de Paula Vendramel Fernandes
professor e militante de direitos humanos,
professora em Ariquemes, RO.
Endereço eletrônico: marinez.paula@gmail.com




Tecnologias na Educação
O Passo - Entrevista com Lucas Ciavatta (Parte I)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender"

A afirmação é do professor José Manuel Moran. Ele fala sobre o uso da Internet na educação, fundamentado seu pensamento na "interação humana",
de forma colaborativa, entre alunos e professores.



José Manuel Moran é um dos maiores especialistas brasileiros no uso da Internet em sala de aula. Por isso, não se espere dele o deslumbramento do marinheiro de primeira viagem. Timoneiro experiente, ele conduz o barco devagar. Para o educador que acessa a rede pela primeira vez, ele adverte que nem sempre a maré está para peixe. "A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender hoje, da troca, do estudo em grupo, da leitura, do estudo em campo com experiências reais". A tecnologia é tão-somente um "grande apoio", uma âncora, indispensável à embarcação, mas não é ela que a faz flutuar ou evita o naufrágio. "A Internet traz saídas e levanta problemas, como por exemplo, saber de que maneira gerenciar essa grande quantidade de informação com qualidade", insiste.

A questão fundamental prevalece sendo "interação humana", de forma colaborativa, entre alunos e professores. Continua a caber ao professor dois papéis: "ajudar na aprendizagem de conteúdos e ser um elo para uma compreensão maior da vida". Se o horizonte é o mesmo, os ventos mudaram de direção. É preciso ajustar as velas e olhar mais uma vez a bússola. E José Manuel Moran foi traçar rotas em mares nunca dantes navegados. A novidade é que "hoje temos a possibilidade de os alunos participarem de ambientes virtuais de aprendizagem". O grande desafio é "motivá-los a continuar aprendendo quando não estão em sala de aula".

Os educadores que não quiserem se lançar ao mar, muito apegados à terra firme, poderão ficar a ver navios. Mas não há mais porto seguro: o oceano de informações que a Internet disponibiliza aos alunos obrigará os professores a se atualizar constantemente e a se preparar para lidar com as múltiplas interpretações da realidade. Espanhol que atracou no Brasil, Moran abandonou por alguns momentos sua tripulação do curso de Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da USP e nos concedeu esta entrevista.

O senhor diz que não se deve esperar soluções mágicas da Internet. Que expectativas devemos ter das novas tecnologias na educação?

Prof. José Manuel Moran - Nós esperamos que a tecnologia — teoricamente mais participativa, por permitir a interação — faça as mudanças acontecerem automaticamente. Esse é um equívoco: ela pode ser apenas a extensão de um modelo tradicional. A tecnologia sozinha não garante a comunicação de duas vias, a participação real. O importante é mudar o modelo de educação porque aí, sim, as tecnologias podem servir-nos como apoio para um maior intercâmbio, trocas pessoais, em situações presenciais ou virtuais. Para mim, a tecnologia é um grande apoio de um projeto pedagógico que foca a aprendizagem ligada à vida.

Apesar de ser professor de novas tecnologias, o senhor acredita que, antes disso, há uma mudança mais urgente a ser feita no modelo de educação. Qual seria essa mudança?

Prof. José Manuel Moran - O que estamos vendo é que formas de educar com estrutura autoritária não resolvem as questões fundamentais. A questão não é tecnológica, mas comunicacional. A tecnologia entra como um apoio, mas o essencial é estabelecer relações de parceria na aprendizagem. Aprende-se muito mais em uma relação baseada na confiança, em que alunos e professores possam se expressar. Criar e gerenciar esse ambiente é muito mais importante que definir tecnologias. Embora eu trabalhe com elas, noto que o foco está na interação humana, presencial ou virtual. Preocupa-me muito a dificuldade que temos em estabelecer relações participativas, porque todos nós carregamos estruturas tremendamente autoritárias, sendo submissos ou dominadores, e reproduzimos isso na escola. A cultura da imposição, do controle, é talvez a barreira mais difícil de derrubar no processo pedagógico.

O senhor faz uma distinção entre ensino e educação, esta última sendo a integração do ensino com a vida. É evidente a maneira como as novas tecnologias podem contribuir para o ensino. Mas como elas podem contribuir para a educação?

Prof. José Manuel Moran - Quando falamos de ensino, focamos a aprendizagem de alguns conteúdos. A educação é um processo muito mais integral, que nos ocupa a vida toda, e não somente quando estamos na escola. E o professor tem esses dois papéis: ajudar na aprendizagem de conteúdos e ser um elo para uma compreensão maior da vida, de modo que encontremos formas de viver que nos realizem e desenvolvam nossas capacidades. Isso não depende da tecnologia, mas da atitude profunda do educador e do educando, de ambos quererem aprender. A tecnologia pode ser útil para integrar tudo que eu observo no mundo no dia-a-dia e para fazer disso objeto de reflexão. Ela me permite fazer essa ponte, trazer os conteúdos de forma mais ágil e devolvê-los de novo ao cotidiano, possibilitando a interação entre alunos, colegas e professores.

Uma de suas experiências mais bem-sucedidas consiste em partilhar os resultados das pesquisas escolares pela Internet. Que mudança isso provoca no rendimento dos alunos?

Prof. José Manuel Moran - É uma concepção do aprender de forma cooperativa e não competitiva. A aprendizagem estava muito voltada só para conseguir notas, ver quem chegava primeiro. Dentro dessa visão — que não se dá apenas com a tecnologia, mas também na sala de aula comum —, a proposta é colocar a interação na prática. Hoje temos a possibilidade de os alunos participarem de ambientes virtuais de aprendizagem, tanto de uma forma simples, publicando um trabalho em uma página, quanto criando debates, fóruns ou listas de discussão por e-mail. Cada escola e cada professor, dependendo do número de alunos que ele tenha ou da situação tecnológica em que se encontra, pode buscar soluções mais adequadas. O importante é o foco, que o aluno e o professor sejam estimulados a fazer parte de um espaço virtual de referência que disponibilize o que é feito em sala de aula. Eu creio que essa área de visibilidade liberta a sala de aula do espaço e do tempo físico. Porque depois, fora da aula, pode-se encontrar um pouco do que foi dito pelo professor, o que foi feito pelos alunos.

O senhor afirma que as novas tecnologias exigem muito esforço dos professores e, por outro lado, defende que "o aluno já está pronto para a Internet". Em que aspectos o aluno estaria em vantagem em relação ao professor?

Prof. José Manuel Moran - Ele é privilegiado na relação que tem com a tecnologia. Ele aprende rapidamente a navegar, sabe trabalhar em grupo e tem certa facilidade de produzir materiais audiovisuais. Por outro lado, o aluno tem dificuldade de mudar aquele papel passivo, de executor de tarefas, de devolvedor de informações. Na prática, acaba assumindo um papel bastante passivo em relação às suas reais potencialidades. O aluno tem capacidade de ir muito além, ele está pronto. Porém, a escola impõe modelos autoritários, voltando ao começo, quando o professor controlava e o aluno executava. E isso não o motiva. Por isso, a mudança mais séria deve vir mesmo dos professores. O novo professor dialoga e aprende com o aluno. Isso pressupõe uma certa humildade que nos custa como adultos a ter. Nós queremos ter a última palavra.

Novamente baseado em suas experiências em sala de aula, o senhor observa que muitas vezes a navegação é mais sedutora que o trabalho de interpretação e concentração que a pesquisa exige e o professor deve estar atento para evitar que os alunos sejam muito dispersos em suas pesquisas. Isso significa que o professor terá, diante da tecnologia, de reproduzir o modelo de controle a que o senhor se opõe?

Prof. José Manuel Moran - Essa é uma questão difícil de resolver na prática. Muitos alunos estão numa fase da vida ainda de deslumbramento, estão curiosos. Eles não têm organização e maturidade para se concentrar em um só tema durante uma hora. Então eles abrem mil páginas ao mesmo tempo, se deixam naturalmente seduzir por certos temas musicais ou eróticos, conforme a sua idade. Esse conjunto de questões dificulta o trabalho com um tema específico. Essa também não é uma questão meramente da tecnologia ou do professor, mas da dificuldade de concentração diante de tantos estímulos.

Há um paradoxo nessa questão. Há uma quantidade de informação quase inesgotável acessível pela Internet. Por outro lado, quando se é confrontado com esse volume de informação, há a tendência de dedicar menos tempo à análise pela compulsão de navegar e descobrir novas páginas. Como se pode contornar isso?

Prof. José Manuel Moran - Em primeiro lugar, reconhecendo que há uma grande dificuldade. A Internet traz saídas e levanta problemas, como, por exemplo, saber de que maneira gerenciar essa grande quantidade de informação com qualidade e como encontrar no pouco tempo que temos em sala de aula, ou na interação via Internet, algo que seja significativo, que não seja somente lúdico. Porque o que interessa é se essa navegação me leva a uma compreensão maior da realidade. Do ponto de vista metodológico, procuro um equilíbrio: nem impor demais o processo, que amarra o aluno, nem deixar que as coisas aconteçam a seu bel-prazer. Eu trabalho com dois momentos. No primeiro, mais aberto, eu coloco um tema em discussão e o aluno procura a informação por si. Depois de um certo tempo, passamos a partilhar o resultado das pesquisas, focamos um determinado artigo ou outro material, para que não fique muito disperso. Mas é importante que os alunos não atendam somente a uma determinação prévia do professor. Creio que esse pode ser um caminho para minimizar a clara tentação de dispersão na pesquisa via Internet. A Internet reforça a tendência dispersiva que os alunos têm no cotidiano, quando eles ficam estudando e ouvindo música, tudo ao mesmo tempo.

Outro equilíbrio que o senhor considera difícil de alcançar é entre o deslumbramento dos alunos pelas novas tecnologias e a resistência de alguns dos professores a esses novos métodos de acesso à informação.

Prof. José Manuel Moran - Eu percebo que as atitudes vão mudando aos poucos, que já houve resistência maior. Mas há professores que inconscientemente fazem o mínimo possível para utilizar a tecnologia, no máximo usam o Word. Eles não usam técnicas de pesquisa ou de apresentação mais avançadas em sala de aula, nem trabalham com criação de páginas. Então há uma parte dos professores de escolas particulares que, mesmo tendo laboratórios e acesso à Internet, resistem a métodos que não sejam tradicionais. Por outro lado, há os que descobrem as novas mídias e esquecem uma série de formas que podem ser interessantes em sala de aula, preferindo sempre jogar os alunos no laboratório, como se fosse uma grande solução. A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender hoje, da troca, do estudo em grupo, da leitura, do estudo em campo com experiências reais. Equilibrar o melhor do ensino presencial, o estarmos juntos, e o melhor do espaço virtual é básico. Mas ninguém teve experiência até agora com o equilíbrio desses ambientes. Antes aprendíamos juntos apenas em sala de aula, e o aluno tinha de se virar para fazer suas atividades quando não estava na escola. Hoje podemos aprender quando não estamos fisicamente juntos.

O senhor atribui essa resistência ao fato de as novas tecnologias colocarem em xeque a posição do professor como detentor do saber. O aluno pode facilmente pesquisar algum tema e ver que há interpretações divergentes e que aquilo que o professor fala pode não ser bem assim. O senhor sente esse receio nos professores com os quais convive?

Prof. José Manuel Moran - O professor, desde que surgiu o livro, sempre teve um pouco de receio de que o aluno aprendesse outras versões além da dele. Só que hoje você tem muitas outras formas de informações em qualquer mídia, e a Internet agrava ainda mais a sensação de que o aluno pode encontrar informações que o professor não tem. Para o professor inseguro, é uma espécie de desafio encontrar uma prática que não seja a do controle. A tentação desse tipo de professor é fechar em cima de uma única versão. O professor mais maduro trabalha com múltiplas visões, tentando relativizar nosso conhecimento, mostrando que estamos construindo algo que é provisório. A nossa visão agora é esta: eu aprendo com o que o outro me traz. Essa visão é muito mais tranqüila. É a aceitação de que eu não sou onipotente, que não tenho respostas para tudo, não sou enciclopédia. Eu aprendo melhor reconhecendo a minha ignorância.

O senhor insiste em seus textos na importância da maturidade do professor ao lidar com a tecnologia. Quais são as experiências mais maduras que conhece de uso da Internet em sala de aula?

Prof. José Manuel Moran - Hoje há muitas escolas que estão tentando encontrar saídas. O que a maior parte delas faz é colocar os alunos em contato com a Internet em laboratórios e depois buscar atividades principalmente entre grupos que não estão fisicamente juntos. No mundo inteiro se trabalha com esse tipo de projeto. A etapa mais avançada, que começa agora na minha opinião, é desenvolver o conceito de gerenciamento de aula, integrando o que é feito pelos alunos quando estão juntos e fazendo com que o processo de aprendizagem continue quando eles não estão mais juntos. Hoje há uma série de programas de gerenciamento de ambientes virtuais que ajudam a trazer temas para a sala de aula. No fundo, é uma página incrementada com ferramentas de chat e de fórum em que os alunos vão colocar seus textos. Há uma série de softwares como o Eureka, o First Class, o Web Ct e o Blackboard.

De que forma o senhor utiliza esses ambientes virtuais mais integrados em seu processo pedagógico?

Prof. José Manuel Moran - Coordeno um curso de pós-graduação semipresencial em que, em alguns momentos, nós nos encontramos e, em outros, interagimos somente através da rede: apresentamos textos, discutimos questões. Temos a relação de uma aula presencial para duas virtuais. É o desafio que vamos enfrentar pelo menos no nível superior, fase em que os alunos não precisam ir todos os dias à aula. O desafio é motivá-los a continuar aprendendo quando não estão em sala de aula. Também estou coordenando programas de educação a distância em São Paulo. Educar a distância, mas de uma forma em que haja troca e não somente repasse de informação, que não seja somente colocar conteúdo em uma página e depois cobrar uma atividade. Estimular o aluno a aprender em ambientes virtuais é outro grande desafio pedagógico que temos hoje. Haverá muita "picaretagem" de instituições que pensam que educação a distância é uma forma de ganhar dinheiro.

O que o senhor teria a dizer a um diretor de escola pública, carente de recursos e com professores que nem sempre são os mais bem qualificados? Nessas circunstâncias é mais indicado investir em tecnologia ou centrar-se na capacitação de professores?

Prof. José Manuel Moran - Eu acho que não podemos mais ficar apenas nos lamuriando da falta de condições. É verdade que um diretor de escola não pode fazer nada sozinho. Isso exige vontade e investimentos públicos nos três níveis. Estou coordenando uma equipe que desenvolve um programa de educação a distância na rede pública estadual de São Paulo para capacitar professores, supervisores de ensino e pessoas que trabalham em Oficinas Pedagógicas (OTP). São profissionais que estão mais em contato com novas tecnologias. Na verdade estamos fazendo a capacitação em serviços a distância, juntando a Secretaria de Educação e a Universidade de São Paulo, através de uma fundação chamada Vanzolini, com o apoio do governo federal, do ProInfo.

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Para saber mais sobre o professor José Manuel Moran:
URL:
http://www.eca.usp.br/prof/moran
E-mail:
jmmoran@usp.br


Vitor Casimiro
Exclusivo para o Educacional